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O controlo biológico é utilizado para prevenir de forma sustentável a proliferação de mosquitos nas principais zonas de cultivo de arroz da Europa

O controlo biológico é utilizado para prevenir de forma sustentável a proliferação de mosquitos nas principais zonas de cultivo de arroz da Europa

Os arrozais, além de serem uma fonte essencial de alimento e uma importante atividade económica em todo o mundo, são também habitats ideais para a proliferação massiva de diversas espécies de mosquitos, entre eles, os principais vetores de doenças como o vírus do Nilo Ocidental. Estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos confirmaram que a distância a estas culturas é um factor de risco associado à exposição ao vírus do Nilo. Agora, uma equipa científica do CSIC coordenou uma análise dos métodos de vigilância e gestão de mosquitos utilizados nas principais áreas de cultivo de arroz na Europa. Este estudo foi realizado com especialistas em saúde pública e controlo de vetores de 13 instituições em Espanha, Portugal, França, Itália e Grécia.

A necessidade de gerir eficazmente as populações de mosquitos associadas às culturas de arroz tornou-se urgente e especialmente relevante neste ano de 2024 em Espanha, onde um novo surto do vírus do Nilo Ocidental afetou áreas do oeste da Andaluzia e da Extremadura. Tal como aconteceu durante o surto de 2020, os casos iniciais concentraram-se nos municípios mais próximos das áreas de cultivo de arroz e espalharam-se ao longo do tempo para localidades mais distantes. Este aumento do número de casos tem gerado grande preocupação entre as autoridades de saúde e a população local, com consequências importantes não só para a saúde pública, mas também para a economia local.

Jordi Figuerola, professor pesquisador do CSIC e especialista em vírus do Nilo, que conta com o apoio da Fundação “La Caixa” para pesquisar estratégias de prevenção, destaca que todos os países analisados ​​no estudo possuem programas recentes de vigilância entomológica e virológica, essenciais para a detecção precoce e a adaptação das estratégias de controle de acordo com as necessidades de cada região. Para gerenciar as abundantes populações de mosquitos nos arrozais, a maioria das regiões tem optado por medidas sustentáveis, como o uso do controle biológico com Bacillusthuringiensisisraelensis (Bti), um larvicida que combate os estágios imaturos dos mosquitos sem agredir o meio ambiente. Em alguns países, este tratamento é aplicado rotineiramente na produção de arroz e zonas limítrofes entre Abril e Outubro, enquanto noutros, onde a enorme extensão das áreas cultivadas o impede, são criados cordões de protecção com 500 metros de largura, onde este larvicida biológico é pulverizado apenas em torno áreas urbanas para proteger a população.

Mikel A. González, investigador do CSIC, salienta que esta estratégia é comum nas principais áreas produtoras de arroz da Europa, como a Grécia, o norte de Itália e o Delta do Ebro, e sublinha a necessidade urgente de aplicar medidas semelhantes nos arrozais de Baix Guadalquivir. “Não compreendemos como é que, com todo o conhecimento disponível, ainda não são implementadas medidas comparáveis ​​às implementadas por exemplo no Delta do Ebro“, afirma González. Embora a erradicação dos mosquitos não seja possível, estas medidas contribuiriam para mitigar significativamente a sua densidade populacional e, portanto, reduzir o impacto do vírus do Nilo nos seres humanos.

Quem deve arcar com os custos?

Este estudo também analisa a questão controversa de quem deve suportar os custos de vigilância, gestão e tratamentos. Na Europa, as estratégias variam significativamente entre as regiões produtoras de arroz e vão desde programas centralizados financiados pelo governo até intervenções locais apoiadas por entidades públicas e executadas por empresas, sejam elas públicas ou privadas. Esta abordagem diversificada reflete as diferentes realidades económicas e organizacionais de cada região, o que coloca desafios de coordenação e equidade na implementação destas medidas.

A inter-relação entre a produtividade agrícola e a saúde pública destaca a necessidade de abordagens abrangentes ao cultivo do arroz e ao controlo dos mosquitos. Uma abordagem OneHealth, que inclua agricultores, operadores de controlo de vetores, profissionais de saúde pública e a comunidade científica, é essencial para otimizar as práticas agrícolas, aplicar intervenções sustentáveis ​​e desenvolver novas estratégias, garantindo tanto a segurança alimentar como a saúde pública da população. Dado o risco crescente do vírus do Nilo na região mediterrânica europeia e o impacto das alterações climáticas, a cooperação internacional, a vigilância e a prevenção contínuas são essenciais.

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